terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Do que é feito um clássico




Criei este blogue para falar do Figueira, mas hoje, excepcionalmente, falarei em nome de alvinegros e azurras, em combate a banalização do que se cunhou ao longo dos anos como: “Clássico”.

Nos últimos dias tem havido um burburinho pelas plagas catarinense, querendo comparar o jogo entre os ditos grandes do interior, com o derby que existe há quase cem anos entre os grandes do estado. Bobeira da nossa imprensa de qualidade questionável, em querer criar audiência onde não há notícia.

Joinville e Criciúma têm sim em suas trajetórias feitos dignos de nota, mas suas trajetórias são recentes e um clássico de verdade se faz com história. No norte, uma máquina de ganhar títulos regionais na década de 80, e só. No Sul, o único título nacional do nosso estado. Mas esses feitos pontuais e esporádicos, embora valiosos, não são farinha suficiente para fazer crescer o bolo de um clássico de verdade.

Não confundam rivalidade com clássico. Rivalidade é o que faz você chamarem o nosso confronto de briga de pescadores, e nos faz chamar o embate de vocês de um joguinho entre a galera do supermercado contra as bailarinas. Clássico é diferente.

Um clássico é feito por vizinhos, pela provocação de véspera e o sarro do dia seguinte.

Um clássico é feito por foguetes estourando na janela do primo que torce para o outro time.

Um clássico é feito pela camisa trajada na segunda feira, usada para ir comprar uma tainha na Peixaria do Chico após uma vitória, ou mesmo após a derrota, só para ter o gostinho de responder quando ele perguntar se não estamos com vergonha: “Não, diferente de vocês, a minha eu uso o ano inteiro, não só quando eu venço.”

Joinville e Criciúma são times jovens com algum destaque em território barriga-verde, essa neurose em querer fazer do confronto entre eles um clássico, se dá pelo fato de não terem no trabalho um colega de quem darem risada no dia seguinte ao embate. Isso não é clássico.

Torcedores do interior, vocês só entenderão o que é um clássico, quando souberem que a vitória naquele determinado jogo vale para a torcida tanto quanto um título, provavelmente até mais do que um título, o tal do “campeonato dentro do campeonato”. Você pode estar na merda, o seu atacante não acerta a bola nem com ajuda divina, sua zaga bate cabeça, seu goleiro não sabe sair do gol, a pontuação o coloca entre os distantes da zona de classificação, mas aí vem o clássico e, como num passe de mágica, todas aquelas mazelas desaparecem, você entra em estado de graça por que vai dizer cheio da sabedoria advinda das arquibancadas: “Foda-se o campeonato, o que importa é o clássico! O que importa é ganhar deles, se for na casa deles então, aí sim é que o futebol faz sentido!”.

Mesmo que não valesse um título, as duas vitórias que os avaianos tiveram sobre nós no ano passado, depois de termos deitado e rolado no turno e returno do cameponato varzearinense, valeram uma copa do mundo para eles. Não por causa do título, mas por que foi sobre nós.
Isso é um clássico.

Mesmo que não tivéssemos ostentado tão sem humildade toda a nossa hegemonia na década de 2000, mesmo que não tivéssemos erguido as seis taças estaduais que erguemos, o simples fato de termos ficado cinco anos sem saber o que é perder para os azulejentos, ganhando dentro e fora de casa ao nosso bel-prazer, já nos teria valido a pena. Não por causa das vitórias, mas por que foi sobre eles.

Isso é um clássico.

Vocês sentem isso quando se enfrentam, povo do sul e do norte do estado?

Eu imaginei que não.


Uma vitória ou derrota do seu time altera o seu humor no dia seguinte a partida.

Um clássico altera a história. Você falará dele para sempre.

No dia que um de vocês disserem que vencer o outro, vale tanto ou mais do que um campeonato, aí sim vocês poderão começar a acreditar que sim, de fato vocês têm um clássico.

Enquanto isso, sentem aí nas suas cadeiras e assistam cheios de inveja o único clássico de Santa Catarina, imaginando como deve ser legal tirar sarro do vizinho no dia seguinte.

Agora, se nos dão licença, vamos lá no Scarpellão disputar nosso campeonato a parte, que vale muito mais do que esse outro que estamos disputando em paralelo, estezinho que vocês também fazem parte. O campeonato menor – este que vocês também disputam – vale taça, mas o campeonato que é só nosso, vale muito mais. Vocês não vão conseguir entender, mas acreditem, vale muito mais. Afinal de contas, o jogo será só no sábado, e mesmo sem ter acontecido ainda, já é um clássico!

Um comentário:

Kk De Paula disse...

Querido, adorei o texto. Realmente clássico aqui na santa e bela catarina tem só um e nós, figueirenses e avaianos somos as duas torcidas que sente na pele e na alma os efeitos dessa paixão entre "irmãos". Abraços.